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Ensino técnico abre mais portas que o superior incompleto

Ensino técnico abre mais portas que o superior incompleto

Jornal Valor Econômico, 29 de dezembro de 2021

Trabalhadores que cursaram ensino técnico e profissionalizante estão inseridos de uma forma melhor no mercado de trabalho do que aqueles que concluíram apenas o ensino médio ou que seguiram para o ensino superior, mas não concluíram a formação.

Na comparação com quem tem ensino superior completo, no entanto, a qualidade da inserção no trabalho é inferior, principalmente em termos de remuneração e tipo de atividades. A conclusão é do estudo “Indicadores de qualidade do egresso do ensino técnico e profissionalizante”, de dois pesquisadores do Insper, encomendado pelo Itaú Educação e Trabalho.

Sergio Firpo e Alysson Portella criaram um índice de qualidade da presença no mundo do trabalho, que considera cinco dimensões: participação na força de trabalho (se busca ou não trabalho), ocupação (se está ocupado ou desempregado), formalidade (se é trabalhador formal, empregador, contribui para o INSS ou não), salário (se recebe três salários mínimos ou mais) e intensidade de tarefas de rotina (RTI).

O objetivo do último critério é avaliar a probabilidade de uma atividade do trabalhador ser substituída por uma máquina, considerando as mudanças em curso e as que ainda ocorrerão em função das novas tecnologias.

O índice era de 0,5604 em 2019 para aqueles entre 18 e 29 anos que tinham cursado o chamado EPT (Educação Profissional e Tecnológica), maior tanto que para aqueles que tinham ensino médio (0,4475) quanto para quem tinha começado o ensino superior, mas não chegou a concluir a formação (0,4485). O índice varia de 0 a 1: quanto mais perto de 1, melhor é a qualidade de inserção no mercado.

Os dados foram calculados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para 2019, último ano para o qual o suplemento de educação da pesquisa foi divulgado. A escolha pela faixa etária entre 18 a 29 anos é pelo fato de ser o grupo com a formação escolar mais recente, segundo os pesquisadores.

“Na hora em que se compara e agrega essas cinco dimensões, quem tem o ensino profissionalizante tem uma vantagem sobre quem tem ensino médio geral e sobre quem tem ensino superior incompleto. Tem um ganho de adquirir uma competência que vai permitir um ingresso rápido no mercado de trabalho e com melhor qualidade”, diz o economista Firpo, professor titular da Cátedra Instituto Unibanco no Insper.

Por outro lado, o índice dos egressos do ensino técnico e profissionalizante se mantém abaixo daquele dos que concluíram o ensino superior. O índice desse último grupo era de 0,6949 em 2019. Considerando as cinco dimensões que compõem o índice, as maiores diferenças aparecem em salário e no indicador de tarefas rotineiras.

“O índice de quem tem ensino técnico não bate de quem tem ensino superior, especialmente na questão do salário e das vagas que não são tão substituídas por máquinas. Essa transição para o ensino superior oferece benefícios, tanto em termos salariais quanto em chance de ter uma ocupação menos exposta à substituição por uma máquina. O ensino superior é uma proteção que você tem no mundo do trabalho”, explica Firpo.

Um dos pontos de atenção dos pesquisadores para o trabalho é o fato de que a participação do ensino técnico no país ainda é muito inferior ao do ensino médio geral e é preciso garantir que a expansão do formato para uma parcela mais ampla da população seja acompanhada por manutenção ou melhoria de sua qualidade.

Pelos dados da Pnad Contínua de 2019, havia 1,2 milhão de pessoas com formação técnica na faixa etária de 18 a 29 anos, para um contingente de 14,4 milhões com ensino médio completo, 5,2 milhões com ensino superior incompleto e 4,1 milhões com ensino superior completo.

E isso é importante principalmente no momento da entrada em vigor do novo currículo do ensino médio, em 2022, que terá uma parte adicional do curso em que o aluno poderá escolher se aprofundar em um entre cinco itinerários de formação: as quatro áreas de conhecimento (linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e sociais aplicadas) mais uma quinta opção, que é a formação técnica e profissional.

“É um contingente ainda muito pequeno de pessoas com ensino técnico se compararmos com a dimensão do ensino médio. Nosso estudo aponta um ganho na qualidade de inserção no mercado de trabalho do técnico em relação ao médio, mas a gente não sabe o quanto disso se deve de fato ao que é ensinado no técnico ou se as pessoas que vão para o técnico têm uma formação melhor e já estariam mais preparadas para o mercado de trabalho”, afirma o pesquisador Alysson Portella. “O grande desafio é expandir o ensino técnico para mais pessoas e manter a qualidade.”

A preocupação também está presente na iniciativa do Itaú Educação e Trabalho, que financiou o estudo. Segundo a gerente de Gestão de Conhecimento da organização, Carla Christine Chiamareli, o objetivo foi criar indicadores que possam ser usados tanto para a avaliação dos egressos do ensino técnico como para pautar a agenda pública e as iniciativas com os diferentes parceiros.

“A ideia foi chegar a um indicador que possa traduzir a trajetória do egresso de educação técnica no mercado, que por sua vez vai pautar as redes de ensino, para olhar para essas políticas e melhorar a relação com o setor produtivo. Queremos produzir evidências para monitorar o ensino técnico, avaliar o efeito no indivíduo e pautar as agendas”, conta.

Uma das conclusões de destaque no estudo, segundo Carla, é o fato de que quem faz educação técnica tem mais chances de chegar na universidade.

Na faixa etária entre 18 e 29 anos, 34,5% dos que fizeram ensino técnico estão matriculados no ensino superior, taxa que é de 27,4% entre aqueles que cursaram o nível médio. “Quem faz o técnico, quer continuar se formando. A ideia é enxergar o EPT como uma etapa na formação. E permitir que a inclusão do jovem que ainda não chegou à universidade seja digna. A gente aposta nessa pauta porque quer que o jovem tenha direito a uma inclusão produtiva digna. Hoje o que se vê muito é o subemprego e o trabalho informal”, defende ela.(do Valor Econômico em 29/12/2021)

A ETEP tem tradição de 65 anos em cursos técnicos de qualidade e alta empregabilidade no mercado regional e nacional.

Fonte:
https://cnf.org.br/ensino-tecnico-abre-mais-portas-que-o-superior-incompleto/

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/12/29/ensino-tecnico-abre-mais-portas-do-que-superior-incompleto-diz-estudo.ghtml